O vídeo mostrava uma criança diante de um espelho. Mas havia um
momento em que a imagem refletida não repetia os movimentos do ser à sua
frente.
O reflexo parava de se mover e ficava olhando fixamente a criança.
Não continuei assistindo. Após fechar a tela, guardei o celular no
bolso e tratei de jogar a minha atenção para a paisagem do lado de fora do
ônibus. Vídeos como aquele me impressionavam. Após a morte do meu cachorro,
tudo me impressionava.
Até chegar em casa, fui evitando todos os reflexos, todas as
vitrines, todas as possibilidades de estar diante de um universo estranho. Eu
convivia diariamente com pessoas estranhas. Com algumas me relacionava. Mas
aquelas que existiam do outro lado, vivendo vidas paralelas numa dimensão de
vidro, eram demais para mim. Ninguém gosta de encarar o outro lado, da mesma
maneira que ninguém gosta de se ver por dentro.
Então entrei no elevador. Não deveria ter entrado. Não sozinho.
Os espelhos me cercavam. E, neles, várias pessoas, que não estavam
no elevador, ficaram me olhando. Inclusive o meu reflexo, silencioso,
inquisidor. Como se me esperasse.
No meu andar, a porta do elevador se abriu e eu corri. Estava fugindo
sem saber para onde. Sem saber para quê.
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