sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Família

“Jefferson, estou ouvindo umas batidas no sótão.”

Jefferson foi olhar. Ele não havia escutado nada, mas poderia haver ratos lá em cima. Acabaram de se mudar, ele e Lidiane, nunca se sabe. Não custava nada ir ver.

Acendeu a luz e subiu os degraus que levavam ao pequeno compartimento entre o teto e o telhado. No meio das caixas que trouxeram, encontrou um grande baú.

Tinha certeza de que aquele baú não era seu. Nem de Lidiane.

Destrancou o baú e abriu. Havia um menino lá dentro. Um menino muito magro e pálido, com um olhar vazio. Mas estava vivo, e não demonstrou surpresa quando Jefferson o resgatou.

Quando Lidiane viu o menino levou um susto, mas se encantou. Quis adotá-lo. Jefferson não achou uma boa ideia, mas sempre fazia as vontades dela.

O menino custou a falar, mas acabou explicando que estava brincando de esconder com o irmão e entrara ali. Não conseguira mais sair.

“Mas isso tem quanto tempo?”, perguntou Jefferson. “Essa casa estava vazia há pelo menos vinte anos. Foi o que disse o corretor.”

O menino não respondeu.

*

Cuidaram da criança. Levaram ao médico, trataram, deram amor.

Jamais brincaram, no entanto, de esconder com ele.



Um comentário:

  1. Obrigada Maurício, por ter voltado com seu blogue. Aprecio muito o que escreve e quando sumiu, senti falta.
    Neste conto de hoje, tenho uma sugestão a dar, se me permite.
    Eu mudaria a ordem das palavras da frase final:
    No entanto, jamais brincaram com ele de esconde - esconde - Acho que fica mais claro. Um abraço.

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