quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Papel



O menino escreveu num pedaço de papel o nome da professora que o havia repreendido. Antes de dormir, pôs o pedaço de papel numa fenda que ele descobrira na parede, no porão de sua casa, e foi se deitar.

No dia seguinte a notícia: a professora havia sido atropelada no caminho para o trabalho. Falecera antes de chegar ao hospital.

O menino, então, escreveu em outro pedaço de papel o nome do colega que o perseguia na escola. Como fizera com o anterior, colocou este pedaço de papel na mesma fenda na parede antes de dormir.
 
Atacado por um cachorro na manhã seguinte, também o colega não resistiu.

Embriagado, assim, pelo poder de matar seus desafetos, nem percebeu o menino que os bilhetes foram se desdobrando, até saírem da fenda e caírem, abertos, no chão.
           
*

Quando a professora retornou, no meio da noite, para uma aula particular em seu quarto, o menino achou que ela agora falava de forma vagarosa. Também achou que ela cheirava a coisa morta.

Alguns instantes depois, também o colega viria entrar em seu quarto. Só que, desta vez, com brincadeiras mais cruéis.


 


Um comentário:

  1. Oi Maurício, tudo bem? Que legal o seu trabalho! Como fã de terror, sempre busco ler obras de autores nacionais e sempre me surpreendo com a quantidade de bons autores que encontro. Parabéns e sucesso sempre!

    http://porredelivros.blogspot.com

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