terça-feira, 26 de abril de 2016

A primeira vez



Após levar o namorado até o portão, ela voltou para dentro de casa. Feliz por ele ter vindo mais cedo, feliz pelos pais terem viajado, radiante pelo que acabaram de fazer. Sentia-se dolorida, mas plenamente satisfeita. Ele a assustara um pouco, mas ela considerou que aquilo seria normal. Um pouco de violência durante o sexo apimentava a relação, pensou, reproduzindo a frase lida numa revista feminina. 

Pegou o celular. Precisava contar a boa nova, e estava prestes a ligar para a melhor amiga quando o aparelho começou a tocar. Era ele.

“Sentiu saudade, amor?”, ela foi logo se desmanchando.

A voz dele, porém, não tinha o tom amoroso que ela esperava. Falava preocupado, quase tenso.

“Amor, tive um problema. Bati com o carro, vou me atrasar.”

Antes que pudesse assimilar a absurda informação e responder alguma coisa, ela sentiu uma pontada violenta na barriga. Como se, dentro dela, algo furioso a chutasse, querendo vir para fora.