Após levar o namorado até o portão, ela voltou para dentro de
casa. Feliz por ele ter vindo mais cedo, feliz pelos pais terem viajado, radiante
pelo que acabaram de fazer. Sentia-se dolorida, mas plenamente satisfeita. Ele a
assustara um pouco, mas ela considerou que aquilo seria normal. Um pouco de
violência durante o sexo apimentava a relação, pensou, reproduzindo a frase
lida numa revista feminina.
Pegou o celular. Precisava contar a boa nova, e estava prestes a
ligar para a melhor amiga quando o aparelho começou a tocar. Era ele.
“Sentiu saudade, amor?”, ela foi logo se desmanchando.
A voz dele, porém, não tinha o tom amoroso que ela esperava. Falava
preocupado, quase tenso.
“Amor, tive um problema. Bati com o carro, vou me atrasar.”
Antes que pudesse assimilar a absurda informação e responder
alguma coisa, ela sentiu uma pontada violenta na barriga. Como se, dentro dela,
algo furioso a chutasse, querendo vir para fora.