terça-feira, 17 de maio de 2016

Corrosão



Monstruosamente ele seguia, afastando clarezas e repudiando iluminações. Deixava no semblante mais espaço para as sombras, e de tanto conviver com sombras o coração terminou por elas ocupado.

Ele jurava que, um dia, havia sido alguma coisa. Um dia, antes da corrosão.

O sangue que encontrava pela casa, julgava ser seu. Mas não lembrava. Às vezes ficar tão só lhe doía, e ele era flagrado chorando. Às vezes vinha aquela escuridão e ele se sentia desaparecer.

Quando a campainha tocava, ele se sentia desaparecer.

Numa dessas ocasiões, em que retornara sem jamais ter saído, ele se deparou com oito crianças dentro da casa. Mas elas não se mexiam.

E todo aquele sangue não poderia ser seu.