“Deixa eu ver o teu rosto”, ele pediu.
Tentava trazê-la para fora da sombra. Tentava iluminar a face pela
qual já se considerava apaixonado, embora só a tivesse visto através de fotos
na internet.
Ela, porém, não se moveu.
“Vem”, ele insistiu, com a impaciência própria dos jovens.
Puxou-a, e de tão entusiasmado acabou abrindo mão da delicadeza.
Então ela cedeu. Involuntariamente. Bruscamente. Quatro, cinco
passos e estavam os dois na luz.
Ele recuou. Recuou e soltou-lhe as mãos, achando-as agora frias e
enrugadas. Ao olhar para ela, o susto foi maior do que a elegância, e naquele
instante não havia nada que o fizesse calar o grito.
Quis dizer que ela era feia. Mas o adjetivo lhe pareceu
insuficiente.
“O que é você?”, ele perguntou, cheio de aspereza e indignação,
enquanto ela retornava humilhada para a sombra. “O que é você e o que pensa que
eu sou?”
Após o susto, veio a raiva. Sentiu que havia sido enganado. Mais
do que isso, agredido. Tanto que os punhos imediatamente se fecharam, o sangue
lhe subiu à cabeça e ele a esmurrou.
*
Ele quase não falava mais. Um meio sorriso permanentemente
estampado no rosto e um olhar perdido marcariam a sua expressão dali por
diante.
Para todos, um sinal de felicidade. Quem conseguisse passar mais tempo
com ele, no entanto, não deixaria de notar os pequenos tremores, no rosto e no
corpo.
Também não passaria em branco a completa incapacidade de fechar as
mãos.
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